quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Caetano posta para Ivan kussler - Ivam evaldo Kussler - morcego raposa

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Raposa-voadora: O Maior Morcego do Mundo
Tem cara de raposa, mas é um morcego - o maior morcego do mundo luta para sobreviver à intolerância e ao avanço das cidades.


De longe, ela pode até assustar as mentes mais impressionáveis. Afinal, o bater das asas negras na escuridão há muito alimenta o imaginário popular das histórias de terror e afins. Mas olhando-se um pouco mais de perto, logo se vê que a raposa-voadora não é um morcego qualquer. A começar pelo nome: graças à sua simpática cara de cachorro, ganhou uma designação de seus horripilantes primos. Ela também não suga o sangue de animais nem vive em cavernas. Ao contrário: seu cardápio se resume às frutas e ao néctar de flores das matas tropicais onde vive, na Ásia, na Oceania e na África.
Podendo ter até 2 metros de envergadura nas asas, a raposa-voadora é o maior morcego do mundo. E, de quebra, o maior mamífero capaz de voar. Está representada por 60 das 1.000 espécies de morcegos que existem (se você não acha muito, saiba que eles são um quarto dos mamíferos do planeta). O resto das espécies é bem menor e em geral se alimenta de insetos e animais pequenos como peixes e ratos. Dessa forma, são poucos os morcegos que têm tanta importância para o meio ambiente quanto as raposas-voadoras. Por causa do seu tamanho e das longas distâncias que percorrem, elas espalham sementes por grandes áreas, e ainda ajudam a polinizar, uma vez que o néctar e o pólen das flores também fazem parte da sua dieta. Até aí, nenhuma novidade. Pássaros e abelhas desempenham o mesmo papel - mas nenhum outro animal no mundo concentra as duas habilidades.
Só que a vida, ultimamente, tem ficado um tanto difícil para esses simpáticos mamíferos alados. O devastamento das florestas tropicais para dar lugar à agricultura e à expansão urbana estão reduzindo dramaticamente as oportunidades de alimento para as raposas-voadoras. Famintas, invadem pomares em busca de frutas e não raro morrem eletrocutadas, envenenadas ou pela bala de uma espingarda. Em países como Austrália, Malásia e Madagascar, é cada vez mais comum encontrar esses morcegos empoleirados pelas praças de cidades próximas a áreas florestais. E, para piorar, as raposas-voadoras ainda fazem parte do cardápio de algumas tribos. Para os aborígines australianos, por exemplo, acredita-se que a sua carne ajuda a curar a asma. Já na Ilha de Guam, no Pacífico, esses animais foram comidos até a sua extinção pelos nativos. Sem contar, é claro, os inimigos naturais, como cobras, águias e corujas.
As raposas-voadoras não são animais exigentes. Só precisam de árvores altas, água fresca e proteção contra o calor. Uma vez estabelecidas, chegam a formar colônias que podem durar décadas. Há registros de colônias na Austrália que existem desde o século 19. Esses grupos são formados por milhares de morcegos pendurados numa estrutura rígida e bem organizada. Cada morcego tem o seu pedaço de galho exclusivo - os de maior hierarquia ficam nos galhos mais altos. E pode chegar a conviver a vida inteira com o mesmo vizinho, que reconhece pelo cheiro. Quando é época de acasalamento, as colônias se tornam barulhentas árvores repletas de milhares de machos brigando e gritando por uma fêmea.
Mas, como acontece com a maioria dos morcegos, o período de maior atividade da raposa-voadora é à noite. É quando sai na escuridão para buscar alimento, movimentando-se por meio do som, do olfato e da visão (o ultrassom, comum a outras espécies, não é usado pela raposa-voadora). Esses animais têm o hábito de voltar sempre para o mesmo lugar para alimentar-se. Quando a comida acaba, partem em busca de novas fontes, e chegam a voar até centenas de quilômetros numa única direção. Para garantir esse feito, desenvolveram um design dos mais arrojados, com ossos leves e poucos músculos nas pernas. Daí a necessidade de os morcegos ficarem de cabeça para baixo quando estão descansando: suas pernas não são fortes o suficiente para mantê-los de pé por muito tempo. Pendurar-se é uma forma de aliviar o peso e o cansaço de longas horas de voo. Graças a um mecanismo que prende suas garras ao galho, um morcego não precisa de esforço algum para ficar nessa posição. E, na hora de alcançar voo, basta soltar as garras.
Diante de uma lista que inclui mais de 20 espécies ameaçadas de extinção, diversos pesquisadores estão buscando conter a redução drástica das raposas-voadoras em seu habitat natural. Algumas, como as da Ilha de Guam, já estão extintas, e outras caminham rápido para o desaparecimento. Mas estudar animais alados, e ainda por cima noturnos, não é nada fácil. Por isso, usam-se todas as técnicas disponíveis, desde a captura com sacos e redes até rastreamento por rádio. A maior dificuldade, porém, é lidar com a fobia generalizada por morcegos que impera há tempos entre a maioria das pessoas. Há algumas décadas atrás ainda era possível ver o céu cobrir-se por mais de 30 minutos com uma revoada de raposas-voadoras. Hoje, essa visão é rara, mas os cientistas ainda têm a esperança de que um dia volte. Para eles, é uma questão de conhecer melhor nossos parentes alados. E isso se aplica a todos os morcegos, raposas ou não.

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